Haverá um momento em que o ser humano deixará de ter a Jesus como seu intercessor?
Sim e
não.
Existe um grupo de cristãos bem intencionados, porém, fanáticos, que
prega ser possível os filhos de Deus chegarem a um nível de perfeição
que os capacitará a estarem firmes sem a mediação (Cf. 1Tm 2:5) de
Cristo no período da grande tribulação.
Esse grupo de pessoas desconsidera
Hebreus 7:25 que claramente afirma ser isso
impossível:
“Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.”
Perceba que o versículo dá a ideia de uma intercessão contínua, sem interrupções. Dessa maneira,
os justos
poderão estar certos da intercessão de Cristo e da presença do Espírito
Santo na vida deles no momento em que passarem pela grande tribulação
(Ap 7:13, 14) e enfrentarem o sinal da besta (Ap 13:1-17). [Noutra
oportunidade escreverei sobre isso com mais detalhes].
Nunca você e eu conseguiríamos suportar a grande tribulação com nossas próprias forças. Mesmo que tenhamos sido libertos do
poder do pecado (Rm 6 e 8), ainda não teremos sido libertos da
presença
do pecado (veja o conflito de Paulo em Rm 7, mesmo depois de
convertido), que ocorrerá apenas na glorificação, por ocasião da segunda
vinda de Cristo, quando Ele transformará nosso corpo e nossa natureza
(1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18).
Enquanto estivermos na presença do pecado, haverá dentro de nós uma
natureza pecaminosa que fará nossos atos de justiça sempre parecerem
trapos sujos (Is 64:6) e, por isso, sempre necessitaremos da
misericórdia e trabalho de intercessão de Cristo para vencermos.
DISTORCENDO ELLEN G. WHITE
Por incrível que pareça, alguns veem nos escritos da co-fundadora do adventismo aquilo que não existe. Um dos textos que
não dizem aquilo que os “perfeccionistas” pensam, encontramos, por exemplo, no livro
O
Grande Conflito,
p. 614 (Casa Publicadora Brasileira, 2009). Destacarei algumas frases
para que durante a leitura você note o contexto geral e compreenda
corretamente o que a escritora quis transmitir aos leitores:
“Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra. Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem intercessor. Removeu-se a restrição que estivera sobre os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os que finalmente se encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus. Os ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o
Espírito de Deus, persistentemente resistido, foi, por fim, retirado [dos ímpios, não dos justos]. Desabrigados da graça divina [os ímpios], não têm proteção contra o maligno [os ímpios] [...]“.
O contexto é claro como o Sol ao meio-dia. A autora está dizendo que,
no momento em que Cristo sair do santuário celestial para buscar Seus
filhos, após a conclusão de Sua Obra Meditadora e Judicial (Cf. Jo
5:22), será removida a “restrição que estivera sobre os ímpios” (
O Grande Conflito, p. 614), de modo que Satanás terá “domínio completo sobre os que finalmente se encontram impenitentes” (Ibidem).
Segundo Ellen White, os ímpios é quem ficarão sem um intercessor para o perdão de seus pecados e
para
refreá-los de fazer o mal (devido à contínua rejeição dos apelos do Espírito). Não os justos que, de acordo com Hebreus 7:25,
sempre contarão com a intercessão e auxílio de Cristo!
Os justos ficarão sem um intercessor não para perdoá-los, mas,
para refrear os ímpios.
Na ausência do poder refreador do Espírito Santo, após a saída de
Cristo do Santuário Celestial (Dn 12:1,2), os maus ficarão sem um
intercessor e sem a presença do Espírito de modo que se tornarão mais
maus ainda, ao ponto de perseguirem com mais violência o povo de Deus
fiel à Sua Palavra e à Sua Lei (Cf. Ap 12:17; 14:12).
Como bem escreveu o Pr. Morris Venden em seu livro
Nunca Sin Un Intercesor: las buenas nuevas acerca del juicio (Buenos Aires, Argentina: Asociacion Casa Editora Sudamericana, 1998), p. 60:
“Alguns têm chegado a conceber a ideia de que necessitaremos de
uma grande reserva de justiça em nossas baterias [...] como uma forma de
guiar-nos através desse tempo (de prova, de grande tribulação), quando
seremos nossos próprios donos. Essa é uma grosseira distorção da
mensagem real do evangelho. Pode conduzir a um desânimo real as pessoas
débeis e a uma grande surpresa os mais fortes”.
Como pode ver amigo (a) leitor(a), além de distorcer o evangelho,
tais “perfeccionistas” distorcem o que Ellen G. White escreveu, e terão
de dar contas a Deus, caso se recusem a ler o texto e aceitá-lo como ele
é.
NOSSO MAIOR PECADO NÃO É A TRANSGRESSÃO DA LEI
Não há dúvidas de que pecado é a “transgressão” da eterna Lei de
Deus, de acordo com 1 João 3:4. Porém, a Bíblia não apresenta apenas
esse conceito para pecado.
O termo é abarcante em seu significado (não tratarei do assunto de
maneira detalhada no momento) e podemos ver na Bíblia que tanto Jesus
quanto Paulo apresentaram conceitos ainda
mais amplos, além daquele que encontramos em 1 João 3:4. Veja os textos a seguir:
“Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não
creem em mim” (Jo 16:8-9).
“Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o
que não provém de fé é pecado.” (Rm 14:23).
Afirmar, com base nesses textos, que pecado é
apenas
desobediência à Lei Moral é violentar o texto bíblico. Em João 16:8-9,
Jesus afirma que o pecado principal que o ser humano precisa vencer é
o pecado de não crer em Jesus. A essência do pecado é desconfiar de Deus e confiar em si mesmo (leia Gn 3:1-8).
Nossa maior luta não deve ser para “não errar” e sim para
permanecermos em Jesus todos os dias, a todo instante.
Em João 15 aprendemos que esse relacionamento entre nós e Ele é que nos
capacitará a não praticarmos os “pecados” propriamente ditos, na mesma
frequência e intensidade que aqueles que não aceitaram a graça. Sem
Jesus
nada podemos fazer, diz o Salvador em João 15:5.
Já o apóstolo Paulo, em Romanos 14:23, afirma que pecado é
não viver pela fé (isso envolve não viver pela fé em Cristo, claro). A maior luta contra o “eu” não é simplesmente “não cometer erros”, mas,
viver pela fé em toda e qualquer circunstância (1Pe
4:12-14). É sim confiar em Deus quando tudo está aparentemente perdido
(Sl 23:4; 27:3; Sl 46:1-3) e quando parece que nunca iremos conseguir
vencer aquilo que está nos derrotando (Sl 73:26; Rm 8:31-39).
Perceba que, tendo um conceito correto do que é o pecado, não iremos enfatizar o nosso comportamento. Saberemos que nosso
maior pecado
é não estar com Jesus (Jo 16:8, 9; Rm 14:23) e que a vitória sobre essa
tendência humana, de viver afastado de Deus (Is 59:2), é que nos
tornará vitoriosos sobre as coisas erradas que fazemos (Cf. 2Co 5:17). E
isso unicamente pela graça divina, que através do Espírito Santo
escreve em nosso íntimo os princípios morais de Deus, expressos nos Dez
Mandamentos (Hb 8:10).
Se entendermos o significado amplo do que significa o pecado, também
saberemos que o mal habita em nós desde o nascimento (Sl 51:5), e que
precisaremos desesperadamente de Jesus por toda a nossa vida – até mesmo
quando Ele concluir Sua obra no santuário celestial. Até Cristo voltar
teremos coisas a mudar em nós, segundo Apocalipse 22:11:
“[...] e o santo continue a santificar-se” (Ap 22:11, última parte).
PRECISAMOS SER HONESTOS PARA VENCERMOS NOSSOS PECADOS
Não é se apegando a uma heresia que iremos mascarar diante de Deus,
das pessoas e de nós mesmos, a nossa luta contra o pecado. Precisamos
ser honestos em reconhecer que
jamais conseguiremos ser libertos da
presença do pecado enquanto Jesus não voltar e glorificar nosso corpo (1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18).
Quando você e eu reconhecemos que temos um problema, damos o primeiro
passo para a vitória. Somente ao aceitarmos que somos essencialmente
pecadores (Cf. Rm 3:9-20) e que nossas justiças manchadas pelo pecado
são “como trapo da imundícia” (Is 64:6), é que nos sujeitaremos a Deus
(Tg 4:7) para que
Ele efetue em nós tanto o “querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:13).
Santificação (Cf. Rm 6:22; Hb 12:14) é se tornar parecido com Jesus
todos os dias (Cf. 2Co 5:17). Esse processo chegará ao fim somente
quando Cristo voltar.
Nunca seremos plenamente como Ele enquanto não formos
glorificados (transformados) na segunda vinda (Cf. Fp 3:20, 21).
Portanto, se você for um cristão “perfeccionista”, precisa aceitar
que tem um problema maior por trás de sua vida. Há algo mais por trás de
suas teorias e conceitos, e que lhe impulsiona a adotar uma crença
errada como uma espécie de “fuga” psíquica.
Tire a máscara diante de Deus e será um(a) vitorioso(a). Receberá dEle forças para vencer o
poder
do pecado, não sendo um escravo dele a todo instante (1Jo 3:9).
Continuará sendo um pecador, dependente da graça de Cristo, até o dia em
que Ele voltar e completar a obra dEle em você, na glorificação.
Entretanto, Ele completará a obra que começou em você (Fp 1:6; Jd 24).
Crer nisso é fundamental para reconhecermos nossa incapacidade, como o
fez Paulo (Rm 7), a fim de que seja mantida nossa dependência
total
de Deus, bem como nossa humildade. Do contrário, o mesmo autor de 1
João 3:9 não teria escrito 1 João 1:8 para lembrar-nos de que, apesar de
obtermos a vitória sobre o
poder do pecado, precisamos nos mantermos humildes porque até Cristo voltar estaremos na
presença do pecado:
“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.” (Cf. Ap 22:15).
Para o apóstolo João, ignorar esse fato e viver iludido de livre
vontade é ser um mentiroso. É se enganar. É se iludir com a “salvação
pelo comportamento” (Ef 2:8, 9), que cria na pessoa um espírito crítico,
que a faz olhar mais para o que as pessoas fazem do que para o que elas
sentem (Cf. Mt 7:1; Lc 6:37; Jo 7:24). Além disso, o perfeccionismo
leva à frustração e à descrença (não em todos os casos) porque o
indivíduo, com seus 90 anos, ao olhar para si, percebe que ainda não se
tornou “perfeito” da maneira como ele pensava que se tornaria.
Tenha muito cuidado com o legalismo. Apegue-se à graça de Cristo para
que inclusive a sua obediência seja acompanhada pela fé, como recomenda
Paulo em Romanos 1:5 e 16:26. A fé no intercessor Jesus precisa nos
acompanhar em todas as fases de nossa salvação se quisermos ser
vitoriosos de verdade, recebendo através dessa fé uma vitória que é
dEle e que nunca virá de nós mesmos:
“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Rm 8:37)
Por isso, muito mais que lutar com Deus (que é importante),
precisamos permitir que Ele lute por nós. Isso é se entregar
completamente nos braços graciosos do Pai para ser salvos (Jo 3:36) e
transformados por Ele (Ef 2:10; Tt 3:7, 8; 2Co 5:17). Nisso encontrarmos
a verdadeira paz, força e motivação para nos tornarmos ainda melhores.
Afinal, é
“o amor de Cristo [que] nos constrange, porque estamos convencidos de que
um morreu por todos; logo, todos morreram” (2Co 5:14).
http://novotempo.com/namiradaverdade/2012/11/07/voce-e-eu-nunca-viveremos-sem-um-intercessor/